terça-feira, 25 de outubro de 2011

Opposition au projet du Barrage Belo Monte

Une forêt humaine pour RAONI, 27 septembre 2011 - Episode 1

AMAZÔNIA DEUSA



Perfeição e atitude
de séqüitos, cépticos e sépticos.
Proclamam salvação
encontram solidão.

Imagens distorcidas
querem fazer crer
num mundo desorientado
preocupação não há em preservar.

A fé no futuro é maior
a realidade, imagem vã.
Crer é vital arte
de poetas e sonhadores...

Há uma deusa entre as matas
faz parte dela como o ar...
Nos rios, riachos correm alaridos
salvação premente e real
da selva animal.

Não serão homens a proteger
qualquer ponto do planeta
à sua volta só destruição...

No âmago dos sons silvestres
de pássaros e espíritos elementais
presente, representa conservação
a Deusa Amazônica!

Não tenha pouca fé
Amazônia Deusa
Se auto preservará .

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

XINGU VIVO PARA SEMPRE


SEGUNDA-FEIRA, 24 DE OUTUBRO DE 2011

Belo Monte vai beneficiar os ricos e os políticos corruptos. E o povo, como é que fica?

Rumo ao Seminário Mundial contra Belo Monte (Altamira/PA - 25,26 e 27/out/11), movimentos sociais lançam nota pública [Comitê Xingu Vivo, Intersindical, Unidos pra Lutar, CSP Conlutas, CIMI, CPT]
Faz mais de 40 anos que a Transamazônica foi aberta. Sofrimento e dificuldade tem sido a realidade de quem depende desta rodovia para se locomover. Moradores das zonas rurais e urbanas até hoje vivem passando por todo o tipo de problemas. É poeira no verão e lama no inverno. Agora o governo diz que a Transamazônica vai ser toda asfaltada com Belo Monte.
Depois de 40 anos de promessa, da para confiar? Ou é mais uma mentira do governo para construir Belo Monte?
Se for construída, Belo Monte só vai gerar energia para as indústrias do centro-sul do Brasil e para mineradoras como VALE e ALCOA. Não vai gerar eletricidade para nenhuma comunidade, nem diminuir a conta de luz de quem já possui energia em casa.
Quem espera que a energia de Belo Monte vá beneficiar a população da região amazônica, está redondamente enganado.
Belo Monte vai afetar mais de 360 mil pessoas, de 11 municípios diferentes, porém somente foram realizadas audiências publicas em 03 desses municípios.
Porque o governo não aceitou ouvir as pessoas de todos os municípios impactados?
Como fica o direito dessas pessoas de expressarem o que pensam?
De que o governo tem medo?
Os estudos mostram que Belo Monte vai prejudicar a vida na aldeia Paquiçamba, Arara da Volta Grande, Juruna do Km 17 e Trincheira Bacajá.
Mais de 15 mil indígenas do Pará e Mato Grosso dependem do rio Xingu.
Como vão ficar esses povos?
Belo Monte vai secar um trecho de 100 km do rio Xingu, afetando o seu fluxo.
Como vão ficar os ribeirinhos, os pescadores, as pessoas que dependem do rio para viver?
Para fazer Belo Monte o governo vai retirar de suas casas e de suas terras mais de 50 mil pessoas, impactadas pelo lago e pela obra. Mas até hoje ninguém sabe para onde vai.
Quanto essas pessoas vão receber de indenização?
Onde elas vão morar?
Até agora Altamira já recebeu mais de 20 mil pessoas. O governo diz que vão chegar à região mais de 100 mil. O governo também diz que Belo Monte vai gerar 18 mil empregos diretos e 23 mil empregos indiretos (mas essa quantidade só por 02 anos). Isso quer dizer que mais da metade das pessoas que vão para Altamira não vão ter emprego em nenhum momento .
Como vai ficar a situação nos postos de saúde, o trânsito, a segurança pública, os problemas sociais, a vida na cidade de Altamira e na região?
Belo Monte vai beneficiar os ricos e os políticos corruptos.
Para o povo só vai sobrar problemas e decepção.
Tá na hora de acabar com essa história!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

XINGU VIVO PARA SEMPRE


OEA convoca reunião entre governo e índios para discutir Usina de Belo Monte

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Luciana Lima
Usina de Belo Monte
Usina de Belo Monte
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão das Organização dos Estados Americanos (OEA), convocou uma audiência fechada para tratar do conflito entre governo brasileiro e comunidades tradicionais por causa da construção da Usina deBelo Monte, no Pará. A audiência está marcada para a próxima quarta-feira (26), em Washington (EUA).
A reunião contará com a presença de lideranças das comunidades atingidas com a obra no município de Altamira (PA) e integrantes das entidades de direitos humanos que subscrevem as denúncias de violações de direitos na área afetada.
O assunto está sendo tratado pelo Ministério de Relações Exteriores (MRE). O Itamaraty informou que ainda não decidiu se vai mandar um representante do governo a Washington para a audiência.
A construção de Belo Monte é uma das prioridades do governo na área de geração de energia na Região Norte, mas a obra é cercada de polêmica. O governo anunciou que não abre mão da construção da usina, que será a maior hidrelétrica totalmente brasileira (levando em conta que a Usina de Itaipu é binacional) e a terceira maior do mundo.
A usina terá capacidade instalada de 11,2 mil megawatts de potência e reservatório com área de 516 quilômetros quadrados. Até o momento, o empreendimento tem apenas uma licença parcial do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para iniciar o canteiro de obras.
As comunidades indígenas e as populações ribeirinhas da região de Volta Grande do Xingu acusam o governo de não ouvi-las devidamente antes do processo de licenciamento.
A convocação da reunião foi decidida pela comissão depois que as explicações apresentadas pelo governo, em abril deste ano, foram contestadas pelos representantes das comunidades. Todo processo se refere à medida cautelar emitida pela comissão, exigindo realização de audiência com os índios e a tradução para a língua indígena dos estudos de impacto ambiental, entre outras medidas.
As denúncias de desrespeito aos direitos dos índios foi encaminhada em novembro de 2010, por entidades como o Movimento Xingu Vivo Para Sempre, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), a Prelazia do Xingu, o Conselho Indígena Missionário (Cimi), a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, JustiçaGlobal e Associação Interamericana para a Defesa do Ambiente (Aida).

XINGU VIVO PARA SEMPRE


Belo Monte licença barragem "ilegais" regras juiz federal brasileira

19 de outubro de 2011 
Fonte: mongabay.com

A licença ambiental para a controversa barragem de Belo Monte viola os direitos constitucionais das comunidades indígenas e, portanto, é ilegal, decidiu um juiz federal no Brasil na segunda-feira. juiz Selene Maria de Almeida concluiu que o decreto 2005, que autorizou a barragem é ilegal porque o Congresso não conseguiu levar a cabo um processo de consulta com as comunidades que serão afetadas pela barragem. O processo de consulta é um direito garantido às comunidades indígenas ao abrigo da constituição do Brasil. Um comunicado do International Rivers and Watch Amazon, grupos de campanha contra a barragem, explica o dirigente Almeida: decisão Almeida citou a necessidade de o Brasil cumprir com seus compromissos com a Convenção 169 da OIT e outros acordos internacionais que exigem o consentimento livre, prévio e informado dos povos indígenas sobre projetos que afetam significativamente seus territórios e modos de vida.Decisão Almeida destaca uma diferença importante entre nacionais e quadros jurídicos internacionais relativos aos direitos indígenas e sua efetiva implementação no âmbito das práticas atuais da barragem de planejamento e licenciamento no Brasil. Na audiência de segunda-feira um tribunal federal, a decisão Almeida descartados os argumentos dos advogados que representam o governo brasileiro de que o Belo Monte infra-estrutura Dam e reservatórios não seria fisicamente localizados em terras indígenas e, como resultado, não havia necessidade de consultas com os povos indígenas. Citando evidências esmagadoras de fontes oficiais e pesquisadores independentes, Almeida concluiu que o desvio de 80% do rio Xingu em canais e reservatórios artificiais teria efeitos devastadores para o rio abaixo, Arara e Juruna povos Xikrin Kayapó indígenas, dadas as perdas inevitáveis ​​para as tribos ' capacidade de captura de peixes, cultivar, além de navegar livremente. Como tal, consultas prévias pelo Congresso brasileiro com as comunidades indígenas são necessários antes que o projeto da barragem pode ser legalmente autorizado. juiz Almeida concluiu que o Congresso brasileiro também deveria ter baseado a sua decisão relativo à autorização de Belo Monte sobre as conclusões da avaliação do projeto de impacto ambiental , incluindo estudos antropológicos sobre as suas consequências para os povos indígenas. decisão Almeida vem menos de três semanas após o outro juiz ordenou a suspensão de atividades de construção, devido a preocupações sobre o impacto da pesca local. Amazon Watch diz que, apesar das recentes decisões, o caso está longe de terminar. Ele provavelmente vai acabar no Tribunal Supremo do Brasil. Belo Monte tem se mostrado extremamente controverso.O projeto de US $ 11-17000000000, que iria bloquear a maior parte do fluxo do rio Xingu e inundar milhares de hectares de floresta tropical, tem sido rejeitada por grupos indígenas e ambientalistas. Críticos dizem que a barragem vai operar bem abaixo da capacidade por grande parte do ano, quando os níveis dos rios estão baixos. Ele também irá interromper padrões de migração dos peixes, afetando a subsistência local. 

PRECE NAVAJO DO CAMINHO DA BELEZA




Grande Espírito, que eu caminhe em Beleza.
Que a Beleza esteja sobre mim,
Para que eu possa ser parte da Grande Beleza.
Grande Espírito, que eu caminhe em Beleza.

Que a Beleza esteja na minha frente,
E eu perceba Beleza em todas as coisas.
Grande Espírito, que eu caminhe em Beleza.

Que a Beleza esteja à minha esquerda,
E eu receba a Beleza atrav
és do meu profundo feminino.
Grande Espírito, que eu caminhe em Beleza.

Que a Beleza esteja à minha direita,
E eu doe Beleza através do meu profundo masculino.
Grande Espírito, que eu caminhe em Beleza.

Que a Beleza esteja atrás de mim,
Para que as pegadas que eu deixar
sejam apenas de Beleza.
Grande Espírito, que eu caminhe em Beleza.

Que eu toque meu ser, minha vida,
e a todos com Beleza,
Que eu caminhe por esse
Abençoado Caminho da Beleza.
Grande Espírito, que eu caminhe pela Beleza.

OMITA KOYASIN
PILAMAYAHE



AS AMAZONAS - (Icamiabas)

Em torno de 400 a 600 anos atrás, existiu na região Amazônica, próximo às cabeceiras do rio Jamundá, um reino formado somente de mulheres guerreiras, conhecidas como Icamiabas, isto é, mulheres sem homens ou ainda mulheres sem maridos e, uma terceira interpretação, mulheres escondidas dos homens.. Mas há outra designação, também encontrada no rico folclore sobre elas, que as chama de Cunhã-teco-ima, o que quer dizer mulheres à margem da lei ou sem lei.

Elas viviam completamente isoladas, só mantendo contatos esporádicos com homens.

Em certas épocas do ano estas mulheres belas e guerreiras celebravam suas vitórias sobre o sexo oposto. Neste dia, uma grande festividade era organizada e elas desciam do monte onde viviam até o lago sagrado denominado "Yaci Uarua" (Espelho da Lua).
Durante à noite, quando a Lua deitava sobre o espelho da água, as Amazonas mergulhavam nela com seus corpos fortes e morenos. Após este ritual de purificação e limpeza, estas deusas da Lua clamavam pela Mãe do Muiraquitã. Os estudiosos folcloristas identificaram esta entidade como uma fada, mas ela também cabe na classificação de Grande Mãe das Pedras Verdes. Era ela que entregava a cada uma daquelas mulheres uma pedra da cor verde (jade), denominada de "Muiraquitã", onde encontravam-se esculpidos estranhos símbolos. Receberiam-nos ainda moles, porém, logo que saíam da água eles endureciam. Segundo os índios Uaboí, os amuletos eram vivos e para apanhá-los, as índias feriam-se e deixavam cair uma gota de sangue sobre o tipo que queriam. Isso feito, o animal morria e elas se atiravam na água para buscá-los.



Cada nativa trazia em seu pescoço seu talismã propiciatório de proteção material e espiritual. Mas elas também os presenteavam àqueles que seriam os futuros pais de seus filhos. Estes homens eram selecionados para fecundá-las e depois eram mantidas vivas as meninas, que mantinham a continuidade da casta matriarcal das mulheres guerreiras.

As Amazonas foram vistas pela primeira vez pelo padre espanhol Gaspar de Carvajal, cronista da expedição de Francisco de Orellana. Tal encontro ocorreu no lugar exato onde o rio Negro encontra-se com o Amazonas e não foi muito atraente a estada para estes exploradores. Ao chegarem a aldeia das índias, constataram que no centro de uma praça erigia-se um ídolo, que era o símbolo de uma poderosa Senhora, Rainha de uma grande nação de mulheres guerreiras. Uma dúzia de guerreiras investiram contra os espanhóis e tiraram a vida de vários indígenas que os acompanhavam. Carvajal as descrevia como sendo mulheres altas, belas, fortes, de longos cabelos negros, tez clara e que andavam totalmente despidas, com arcos e flechas e guerreavam como dez índios.

Esta descrição nos remete à um coração de uma caçadora também solitária, Ártemis. Estas mulheres índias representam o arquétipo mais puro e primitivo da feminilidade. Foram deusas nativas que santificavam a solidão, a vida natural e primitiva a qual todos nós podemos retornar quando acharmos necessário a busca de nós mesmos. Como Ártemis, elas possuem um amor intenso pela liberdade, pela independência e pela autonomia. Um amor que pode transparecer como agressão, pois elas sempre irão lutar para preservar sua liberdade.

AS ICAMIABAS E ORELLANA (A LENDA)



Havia já muitas mãos de lua que se prolongava aquela fugida pasmosa pelo rio abaixo, saltando cachoeiras, cortando vales, vendo igarapés, esmagado pela aventura teatral da viagem.
Se ele soubesse, de certo não teria cometido contra Pizarro, seu protetor e amigo, a perfídia que o riscara da confiança merecida por tanto tempo ao espírito do caudilho.
Enfim, o que estava feito não tinha mais remédio.
O melhor era afrontar os perigos daquela travessia acidentada e bárbara, a ver qualquer coisa de dramático naquela dificílima excursão.
Dominado por esse pensamento, D. Francisco de Orellana, de posse da barca famosa cujo comando lhe fora confiado por Gonçalo Pizarro, desembocou num grande rio de que ninguém até então lhe dera notícias. 

Sua expectativa era agora excedida pelo formidável painel hídrico que se lhe deparava.
Agora, sim via-se senhor de um descobrimento e tinha a revelação de um verdadeiro e novo mar. 


Absorvido pelas idéias grandiosas que o empolgavam, o famoso explorador não dormia, contemplando como um enamorado aquele lençol de água desconhecido dos cartógrafos e que parecia uma dádiva da providência à sua delirante ambição.
Muitas horas ficou assim, contemplativo e subjugado, a admirar o próprio isolamento, cercado pelo céu e pelo mar de água doce.
Afinal, exausto de distender a vista por aquela extensão indefinida, foi pouco a pouco adormecendo na fadiga e no amolecimento natural do solitário.
E o romance começou a aparecer...
Aproximando-se de uma das margens do rio, o caudilho viu-se de repente cercado por um bando de mulheres novas e lindas, arrojadas e fortes, em tudo iguais àquelas de que havia memória na Ásia e na África e de que estava cheia a história mítica dos gregos.
Lembravam a imagem das criaturas aladas que comprimiam e queimavam o seio direito, a fim de atirarem com arco mais facilmente, e que se perpetuavam por um comércio calculado e astucioso com os homens dos países vizinhos, devolvendo-lhes depois os filhos varões.
Vinam defender naturalmente aquele vale ameaçado pelo olho cobiçoso do estrangeiro.
E o ardente e imaginoso espanhol, reunindo todas as forças de que dispunha, pôs-se a combater a tribo das icamiabas, distribuindo estocadas aqui e ali, ferindo, amedrontando e conseguindo, depois de muita luta, dispersar a valente legião feminina.

Mas quanto não lhe custara em sacrifício e coragem o arriscado e duvidoso duelo!

A manhã vermelha, lastrando de claridade o espaço e as águas sacudiu num estremecimento o famoso explorador.
Abrindo os olhos, ele viu novamente a extensão verde das margens e hesitava entre o sonho e a realidade do combate.

Chegando ao vale, povoado de cabildas e ranchos, começo a indagar, aqui e ali se tinham visto passar um bando de mulheres guerreiras, com as as quais houvera batalhado arduamente na noite anterior.
Fazendo-se entender, indagava deles se não tinham visto, em seu galope romanesco, o bando das icamiabas.

E a gente rústica, ora duvidando do juízo e da pergunta desse imaginativo turbulento, ora levada pelo próprio amor ao maravilhoso, respondia-lhe com ironia ou com deslumbramento:

-Sim, passou por aqui de madrugada.

-Sim, encaminhou-se para o lado das cabeceiras.

E ainda:

-Subiu a serra de Patituna.

-Está em Jaciuaruá.

-Foi para as cabeceiras do Jamundá.

E assim, na controvertida informação dos nativos, deslumbrados ou divertidos com as perguntas do explorador, adquiriu Orellana a certeza de ter visto e de ter combatido o bando de mulheres guerreiras e de lhes ter dado seguríssima peleja.
Anunciou por todo o vale a presença daquelas heroínas que dormiam no fundo dos lagos, escaldando a imaginação dos mestiços com a notícia da legião aguerrida.
Enfeitiçados pela sugestiva façanha, o povo da região também começou a vê-las, a segui-las, a invocá-las, e, para autenticarem o sonho de Orellana, puseram-lhe o friso da tradição nativa, adornando a fantasia do viajante com uma pedra verde, úmida e lendária que seus avós encontraram no peito inquieto dos rios...

O ÓDIO DAS AMAZONAS
O que acarretou o isolamento das Amazonas e seu generalizado desejo de vingança contra os homens?

As Amazonas surgiram, justamente em um período de transição, em que o matriarcado, ou seja, um governo de mulheres, acabou sendo substituído pelo patriarcado. Essa tese está comprovada com o surgimento da "Casa dos Homens" e a realização da Grande Festa do Jurupari.

Muitas são as lendas e mitos que fazem referências ao antigo poder das mulheres e colocam a questão da transferência desse poder como uma luta, a qual o homem venceu e desde então, passou a tiranizar a mulher. A grande possibilidade é que, as mulheres que conseguiram sobreviver a essa luta, se retiraram para outras regiões, formando "reinos" por elas governados, aos quais, muitas tribos deveriam prestar tributos quando necessitassem cruzar seus territórios.

O MÍTICO JURUPARI E AS AMAZONAS





Jurupari foi o herói mítico criado pelos homens para explicar e justificar as duras leis aplicadas às mulheres, que ficaram relegadas a uma total situação de inferioridade.

Ele veio do céu e é o Coaraci Raia, o Filho do Sol, um equivalente ao "filho do Deus Sol", cuja intervenção se faz de forma direta às mulheres, retirando-lhes todo o poder.
A realização da grande Festa do Jurupari, onde não era permitida a participação feminina, foi uma das maiores causas para agravar as diferenças nas relações entre homens e mulheres. O objetivo da festa não era outro senão intimidar e despertar uma atitude mais passiva e submissa do mulherio, para maior tranqüilidade dos homens.


Existe uma lenda que diz assim:

"No princípio, após a morte do filho da virgem, eram as mulheres que tocavam paxiúba (instrumentos de sopro) e vestiam as máscaras. Mas este tinha, sem dúvida, as suas razões para não amar as mulheres. Um dia desceu do céu e perseguiu uma delas, que tinha a máscara e as paxiúbas. Ela parou para urinar e depois lavar-se. Jurupari afinal à alcançou.

Deitou-a sobre a pedra, violou-a e tirou-lhe as paxiúbas e a mácara. Desde esta época, as mulheres não devem ver as máscaras, sob pena de morte, e Jurupari instituiu definitivamente a Casa dos Homens e a Festa dos Homens."



As Amazonas seriam então, um resquício vivo, da rebelião das mulheres, que não submeteram a nova ordem social imposta herói mítico Jurupari, que introduzia o predomínio do homem sobre a mulher.
Portanto, podemos afirmar, que na Amazônia, em tempos ainda não totalmente determinados, imperava o matriarcado, mas as mulheres acabaram perdendo seu poder e Jurupari instituiu novas leis. Não conformadas com tais ditames, por diversas vezes deve ter havido a tentativa de retomada desse poder. Como não foi alcançado o objetivo e em vista da forte repressão feita pelos homens, fugiram e foram construir tribos onde viviam sós.

As tentativas dos homens de dominar tais comunidades, por certo devem ter ocorrido. Daí a belicosidade das mulheres, que estabeleceram um grande poder para se defenderem.

É interessante acrescentar, que mesmo na lenda de Jurupari, ainda se conservava a predominância da natureza feminina, pois a palavra Coaraci, segundo Barbosa Rodrigues é de significado feminino:

a) CO = verbo ser

b) ARA = o dia

c) CI = mãe, de onde....

COARACI, que dizer "MÃE DO DIA", atestando a proeminência feminina frente a radical mudança de costumes...
BUSCAS ARQUEOLÓGICAS
Dezenas de buscas arqueológicas sucederam-se no Brasil, mas foi somente na Região Norte que os guerreiros nórdicos voltam à vida e a história.

Em torno de 1871, João Barbosa Rodrigues, um naturalista, foi designado pelo Império para explorar as imediações dos rios Tapajós, Trombetas e Jamundá. Ele recolheu amostras vegetais e catalogou dados etnográficos, retornando a capital no ano de 1875, publicando em seguida, seus estudos.

A região do rio Jamundá foi escolhida por ser o local onde se presumia ser o habitat das míticas guerreiras amazonas. Nas proximidades da cidade de Óbidos, Rodrigues encontrou vestígios de uma antiga aldeia indígena, que suspeitou ser a tribo da qual as amazonas faziam parte. A medida que deu prosseguimento as escavações, mais aumentavam suas esperanças. Surgiram um grande número de cerâmicas quebradas e machados. Imediatamente Rodrigues reconheceu que os fragmentos desenterrados eram bem semelhantes aos já encontrados no Peru e na Escandinávia. Tudo indica que realmente existiu um elo de ligação entre a Europa e o Brasil e, existiu um povo mais civilizado do que se suponha, habitando estas paragens. Entre eles estavam as nossas amazonas.

OS MUIRAQUITÃS




Os muiraquitãs têm formas e tamanhos variados, mas geralmente não passam de dez centímetros. São talhados em pedras de cor verde ou azulada (nefrita, jadeíta ou amazonita) e se apresentam normalmente sob a forma de batráquios e felinos. Alguns destes ídolos possuem um orifício, que possivelmente seja para passar um cordão e pendurá-lo no pescoço. Há quem diga que tal perfuração, também podia indicar a condição do feminino, estabelecendo assim uma associação direta com a lua.

Hoje, muito poucos originais muiraquitãs existem no Brasil, a maioria foram roubados, comprados ou traficados, mas já foram encontradas em toda a região amazônica: Pascoal, no Marajó, Santarém, Obidos, Parintins, Manacapuru e outros pontos. Os de cor verde e forma matraquiana são os mais afamados, mas existem igualmente, e em maior número, os de cor de azeitona, de cor leitosa, dependendo do material que foi empregado na sua confecção.

O maior poder do muiraquitã, reside em suas propriedades medicinais e na capacidade de predizer o futuro. Alguns habitantes da Amazônia que os conservam, afirmam que é necessário aproximar-se das margens de um rio ou lago numa noite de lua cheia para despertar os poderes deste fabuloso talismã. O ídolo deve permanecer por longo tempo submergido em água e, em seguida, colocado pelo devoto sobre sua testa. Os muiraquitãs arredondados são específicos para as mulheres, enquanto que os maiores e mais longos devem ser usados pelos homens. Existem também aqueles que apresentam cabeça de felinos, que são apropriados para os varões e, são usados mais para saber o futuro sentimental ou sexual, pois o simbolismo da onça nos remete à fecundidade e ao poder masculino.

O talismã de cor esverdeada mostra o futuro amoroso, enquanto que os azulados são propícios para desvendar o futuro econômico e material. Quando mais polida for a superfície do amuleto, melhor é para visualizar as previsões. Muitas pessoas utilizam glifos da região amazônica para suas adivinhações. Mas estas inscrições pré-históricas devem ter a forma e simbologia dos muiraquitãs.

As pessoas que desvendam estes segredos costumam aproximar suas testa destes símbolos de pedra e formulam então, as perguntas que dizem respeito a seu futuro para que a pedra sagrada possa revelá-lo. Comenta-se, que para empreender esta tarefa é necessário jejum e abstinência sexual, ou até mesmo ingerir uma infusão de guaraná.

Recentemente, mulheres descendentes das Amazonas, começaram a esculpir em pequenas pedras o muiraquitã, com o objetivo de resgatar a cultura, tradição e poderes. Elas só podem ser talhadas em noite de lua cheia e somente elas podem utilizá-los.


GRANDE MÃE DAS PEDRAS VERDES

A Mãe das Muiraquitãs foi quem ensinou as amazonas a fabricar os amuletos. Ela é uma Deusa Lunar que representa o "lado escuro" da lua que luta contra a consciência solar, que forçava as mulheres à servidão sexual. Foi o amor da Grande Mãe que desmanchou o feitiço narcisista e introduziu relações objetais no mundo humano. À medida que essa atitude expandiu-se e generalizou-se, transformou a sociedade no matriarcado, cujos sinais distintivos eram a aceitação universal de todas as criaturas, o naturalismo regulado e uma religião baseada nas intuições das harmonias na ordem natural.

Todas as nações já honraram e veneraram o princípio maternal da natureza. As amazonas possuíam a força e poder deste divino feminino. Elas, como nossas ancestrais, estão vivas em nosso inconsciente e como parceiras interiores nos dizem para termos mais confiança em nosso poder pessoal.

Acredito até que, já tenhamos aprendido a ser mais guerreiras que as próprias amazonas, mas mesmo assim, ainda faço um apelo para que a obra da Grande Mãe não apenas sobreviva e prospere, como também possamos entrar em uma "Nova Era" de atividade em Seu nome, que é o nome da compaixão, da sabedoria e do amor universal.

MEBIÔK, O RITUAL DAS AMAZONAS
Entre os índios Kayapó, ainda hoje é realizado o "Ritual das Amazonas", denominado de MEBIÔK.

Durante 7 dias, as mulheres se tornam as chefes da aldeia, abandonando suas casas, elas instalam-se na "ngobe" (Casa dos Homens), a escola masculina, que é proibida às mulheres.

Os homens, por sua vez, terão a tarefa de substituir suas mulheres nas lidas domésticas, preparando alimentos e cuidando dos filhos. À noite, eles têm que atender aos chamados e provocações das mulheres guerreiras, de modo a provar sua virilidade. É como se voltassem ao tempo do matriarcado, época em que os papéis de homens e mulheres eram inversos.

Na última noite, no encontro na "ngobe" completamente às escuras, sem mostrar quem realmente são, fazem sexo até o pajé anunciar a aurora. Elas vão em seguida tomar banho e retornam às suas casas e à vida normal.

É através desse comportamento que as mulheres relembram aos homens um antigo acordo: se eles não as tratarem bem, com amor e respeito aos direitos sociais adquiridos, elas podem se rebelar, abandonando-os e voltando à época em que as mulheres guerreiras viviam sozinhas na floresta, fazendo uma vez por ano uma "caçada" aos homens para reprodução.

A lenda das Amazonas não estão presentes apenas na cultura Kayapó, as mulheres xinguanas também celebram o Yamarikumã, o ritual das amazonas.

Esse ritual representa a rebelião coletiva contra o desprezo e a humilhação de permanecerem como simples espectadoras, assistindo às demonstrações que consideram machistas. Reagindo, as índias fazem o "moitará" (o comércio de troca intertribal), batem nos maridos, apropriam-se dos seus artesanatos e das flautas sagradas, cantam, dançam e lutam o huka-huka e promovem uma festa tão grande e vigorosa como qualquer outra masculina.Essa é a forma de demonstrarem que a qualquer momento podem repetir o episódio das amazonas guerreiras e viver isoladamente.

RITUAL DO AMOR MÁGICO

Como as Amazonas, escolhemos nossos parceiros para compartilhar muito amor. Como não temos a habilidade para confeccionarmos amuletos mágicos para oferecer aos nossos companheiros, nada melhor do que acariciá-los com uma bela e gostosa fatia de um bolo de amor mágico. Vamos então colocarmos as mãos à massa?

Ingredientes:

1 caixa de bolo pronto de qualquer sabor
algumas pétalas de rosas secas comestíveis
1 colher de sopa de canela

água natural que deve ser deixada do lado de fora ou na janela durante uma noite de lua cheia.



Enquanto mexe os ingredientes vá dizendo:


"uma gota de sangue da lua (a água),
uma pitada de rosa (pétalas comestíveis),
e canela, que é bem cheirosa.
Assim preparo o bolo com paixão e ardor,
para servir ao meu amor."



Leve então o bolo ao forno e ao retirá-lo diga:



"Em cada mordida nos unimos em laços
e esse bolo o trará para os meus braços."
Em seguida sirva um grande pedaço para o homem de sua vida!


TEXTO PESQUISADO E DESENVOLVIDO POR
ROSANE VOLPATTO

Bibliografia consultada:

Geográfica Universal- Bloch Editores; jan/1995 - "O Amor entre os índios"; texto de João Américo Peret.

As Amazonas - Fernando G, Sampaio

Amazônia - Gastão de Bettencourt

Na Planície Amazônica - Raymundo Moraes

Contos e Lendas do Brasil - Oswaldo Orico
IN:http://www.rosanevolpatto.trd.br/lendaasamazonas.htm
RITUAL DE CONEXÃO COM A DEUSA LUA E AS AMAZONAS

O ritual a seguir é um rito de conexão com a Grande Mãe Lua e as energias de femininidade e sabedoria das Amazonas.

Você vai precisar:

Frutas brasileiras nativas (caju, açaí, Abiu-preto, acumã, castanha-do-brasil, ect)
Um pote de barro artesanal( aonde as frutas ficaram)
Um colar de contas verdes (pode ser feito de qualquer material natural)
Um espelho
Quando adentrar na floresta deixe no pote de barro as frutas como uma oferenda a Deusa Lua e as Amazonas:
Senhora da Floresta,
Em Tua honra e em Teu nome
Deixo esta prenda,
Ensina me os teus misterios, o Senhora Cy
Mãe da Lua!

Respire profundamente e ouça a voz do seu coração, deixe o poder da Deusa imunda la. Adentre a floresta e perto de um rio , lago ou cachoeira lave seu espelho murmurando uma canção.Lembre se de fazer tudo com o coração limpo e sincero e acredite.Lave seu espelho e mire no céu atraves da agua no reflexo do espelho a lua ou as estrelas.
Senhora doo Céu Noturno
Deusa da Lua e da madrugada
Traga A mim as energias do Teu renascer
Que em mim renasça a força e a beleza de minhas antepassadas
De todas as mulheres fortes que vieram antes de mim e que não pude conhecer
Que sua força e beleza transborde minha alma
Apartir de hoje parto com inteira confiança
Na minha força de Amazona
Guerreira, Sacerdotisa e Mulher
Respire profundamente e pegue o colar verde que traz consigo.Segure e sinta as energias da lua e da Deusa imundando o.Imagine a voz de fortes mulheres , indias vindas da escuridão da floresta. Ouça a voz das amazonas abençoando a volta de sua Filha Sagrada ao seio da tribo. Sinta se livre verdadeira e honesta e se sentir vontade de chorar , chore. Suas lagrimas lavaram o seu coração. Abra os olhos e lave o colar nas aguas do rio. Assim que sentir que é a hora parta sabendo se aceita entre suas antepassadas espirituais, as amazonas.
Gaia Lil

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

XINGU VIVO PARA SEMPRE


19 DE OUTUBRO DE 2011

JUÍZA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DE BRASÍLIA PEDE ANULAÇÃO DA LICENÇA DE BELO MONTE


                                        Governo na berlinda...


DESEMBARGADORA PEDE ANULAÇÃO DA LICENÇA DE BELO MONTE

Atualizado às 18h02 – 17.10.11

Uma juíza do Tribunal Regional Federal de Brasília colocou o governo na berlinda nesta segunda-feira ao pedir a anulação do licenciamento ambiental da megausina de Belo Monte, no rio Xingu.
O julgamento no TRF foi suspenso por um pedido de vista do desembargador Fagundes de Deus. Mas o voto da desembargadora Selene Almeida, relatora da matéria, representa uma derrota para a Eletrobras, o Ibama e o governo federal, defensores da construção da usina.
Almeida acolheu a argumentação do Ministério Público do Pará de que o decreto legislativo de 2005 que autorizou a construção de Belo Monte é nulo, por ter sido modificado no Senado sem voltar à Câmara. Ela também argumentou que os índios das terras Paquiçamba e Arara da Volta Grande do Xingu, que ficam no trecho do rio que terá vazão reduzida, precisam ser ouvidos pelo Congresso antes de que o licenciamento seja feito.
"Estamos em choque", comentou o advogado da Eletrobras Marcelo Thompson após a leitura do voto, que durou quase duas horas. Caso um dos outros dois desembargadores vote com a relatora, o processo vai para o Supremo Tribunal Federal.
Será a segunda das 15 ações movidas contra Belo Monte que vai parar no STF, afirmou o procurador Felício Pontes Júnior, principal voz da oposição a Belo Monte.
O Ibama e a Advocacia Geral da União têm argumentado que os índios foram, sim, ouvidos pela Funai durante o licenciamento da usina. Afirmam, ainda, que a ação do Ministério Público não tem razão de ser, já que não haverá obras nas duas terras indígenas.
"Não vislumbro plausibilidade nas alegações dos réus", afirmou a desembargadora, dizendo que as populações das duas terras indígenas terá sua sobrevivência tradicional ameaçada do mesmo jeito, já que o rio que as margeia vai secar. "A regra geral no uso dos recursos naturais é a proteção do uso indígena", afirmou.
A juíza defendeu que, "antes que a construção de hidrelétricas se torne corriqueira" na Amazônia, o Congresso formule um marco legal para a consulta aos índios, que não existe hoje no país. "A lógica indica que o Congresso Nacional só pode autorizar a obra depois de conhecer a realidade antropológica", afirmou Almeida. "Faltou informação científica."
Em seu voto, Selene Almeida afirmou ainda que ouvir os índios significa obter "a concorrência, a concordância", e que tanto os índios quanto as 400 famílias de ribeirinhos que serão removidas pela usina têm direito ao uso tradicional de suas terras. "Hoje a sociedade nacional só tem a oferecer aos índios doença, fome e desengano."

Blog SOS Rios do Brasil - Educação ambiental e preservação hídrica: JUÍZA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DE BRASÍLIA PEDE ANULAÇÃO DA LICENÇA DE BELO MONTE

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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

XINGU VIVO PARA SEMPRE


Belo Monte ainda é uma triste história sem final definido

Nota - Em atenção às mensagens que recebi, por email e pelo Twitter, pedindo para recontar a história de Belo Monte, resgatei e atualizei um artigo meu de 2010. Não tenho a pretensão de mostrar nada novo, mas de recuperar alguns momentos da trajetória do processo doloroso que tem sido Belo Monte. Tudo já foi escrito e falado com perfeição por muita gente boa, apenas creio que nunca é demais relembrar os fatos e tentar tirar deles algumas lições. Para aqueles que estão tomando conhecimento agora da luta contra Belo Monte, pode ser importante dar uma lida no texto. (TM)

Todos os impactos decorrentes da construção da hidrelétrica de Belo Monte já foram e têm sido apontados à exaustão. Seja pelo Ministério Público, seja pelos especialistas, seja pelos movimentos sociais, seja pelas ONGs, seja pelos programas de TV, artigos e análise veiculados na mídia. Belo Monte ainda é uma triste história sem final definido. A sociedade brasileira vai ter que criar coragem para escrever seu final, pois é dele que depende o futuro  e a sobrevivência da Amazônia.

Telma Monteiro

Belo Monte está sendo construída no rio Xingu, um dos mais importantes afluentes do rio Amazonas. A Bacia do rio Xingu ocupa dois estados na região Norte do Brasil: Pará e Mato Grosso. A construção de Belo Monte vai afetar globalmente Terras Indígenas, Unidades de Conservação e populações tradicionais, além de ameaçar a biodiversidade de um trecho de 100 quilômetros da Volta Grande do Xingu.
Duas barragens no projeto de Belo Monte vão criar dois reservatórios ligados por 40 quilômetros de canais escavados sobre rocha para desviar o Xingu e mais dezenas de diques de contenção das águas.  Serão 668 quilômetros quadrados entre áreas de floresta, igarapés, leito do rio e áreas naturalmente sazonais  e que serão permanentemente inundadas pelos reservatórios. Partes ainda não definidas da cidade de Altamira serão também alagadas pelo reservatório principal. A população sofre com a falta de informações confiáveis.

Estudos de vários especialistas apontaram a inviabilidade econômica, ambiental e social de Belo Monte. O rio Xingu é um rio sazonal que corta a Amazônia onde os períodos de cheia e seca são muito acentuados.

Especialistas afirmam ser impossível gerar 4.500 MW médios (é a máxima produção de energia que pode ser mantida quase que continuamente pelas usinas hidrelétricas ao longo dos anos) de energia barrando um rio com as características e com o histórico de vazões do Xingu.  O projeto é da estatal brasileira Eletrobras, das empresas Camargo Corrêa, Construtora Norberto Odebrecht e Andrade Gutierrez e prevê a capacidade instalada (limite da produção ou a capacidade máxima de produção) de 11 mil MW.  Na verdade, estudos comprovaram que pode chegar a apenas 1.200 MW médios no ano.

Belo Monte só produziria esssa energia planejada por seus criadores se fosse acompanhada de outros barramentos de regularização a montante (rio acima).
O governo brasileiro afirma que esse projeto incapaz de produzir essa energia exigirá investimentos da ordem de US$ 10,5 bilhões e empresas privadas já especularam que os valores podem chegar a US$ 16,6 bilhões.  

A história de Belo Monte

Na década de 1970 o potencial hidroenergético da Amazônia brasileira foi alvo de muitos estudos e passou a ser prioridade para os setores de infraestrutura. O inventário hidrelétrico do Xingu foi elaborado pela empresa estatal Eletrobras e sua subsidiária Eletronorte e a empresa privada Consórcio Nacional de Engenheiros Consultores S.A. (CNEC) do grupo Camargo Corrêa, uma das maiores empreiteiras do Brasil.

O inventário da Bacia Hidrográfica do Xingu previa, inicialmente, seis usinas hidrelétricas com 20.375 MW de capacidade instalada e 18.300 quilômetros quadrados de área alagada por reservatórios. Seriam cinco usinas no rio Xingu e uma no rio Iriri.

Na década de 1980 foram concluídos e entregues o Estudo de Viabilidade Técnico-Econômica (EVTE) de todo esse complexo hidrelétrico. No primeiro Plano Nacional de Energia Elétrica (PDEE) já se previa a construção de 165 usinas hidrelétricas até 2010, das quais 40 estariam na Amazônia Legal. No final dessa década foi aprovado o Relatório Final dos Estudos de Inventário Hidrelétrico da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu em que constavam os seis aproveitamentos hidrelétricos. O destaque era  a usina Kararaô, atualmente Belo Monte.

Durante o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, os índios Kayapó protestaram contra a construção do Complexo Hidrelétrico do rio Xingu e contra as decisões tomadas na Amazônia sem a participação dos indígenas.  

Na década de 1990 foram então concluídos os estudos de viabilidade de Belo Monte – os povos indígenas proibiram o uso do nome Kararaô - e foi também criado um grupo de trabalho para analisar a alternativa de construir os canais de desvio das águas do rio Xingu. O governo queria contornar o conflito gerado na região em decorrência da  possibilidade de se construir todas as seis usinas previstas.

Na década de 2.000 foi assinado um acordo de Cooperação Técnica entre a Eletrobrás e Eletronorte com o objetivo de complementar os estudos de viabilidade de Belo Monte e incluir os canais de desvio  das águas do Xingu. Essa é a configuração atual do projeto que está sendo construído. Mesmo esse projeto atual já sofreu alterações depois que foi licitado, em 2010. 

Ainda na década de 2.000 foi aberto na Fundação Nacional do Índio (Funai), o processo para acompanhar o licenciamento ambiental de Belo Monte. O Ministério de Minas e Energia (MME) aproveitou para anunciar um plano de emergência de US$ 30 bilhões para aumentar a oferta de energia no país com a construção de 15 usinas hidrelétricas, entre elas, Belo Monte. 

Em 2001 o Ministério Público Federal (MPF) moveu a primeira Ação Civil Pública (ACP), atendendo às reivindicações da sociedade, para suspender os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) de Belo Monte. O pedido foi aceito pela justiça e o projeto passou a ser licenciado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e não mais pelo governo do Estado do Pará. O rio Xingu é um rio federal e compete ao Ibama o licenciamento ambiental de qualquer aproveitamento planejado para ele.

Um dos argumentos fundamentais do MPF foi que os estudos ambientais deveriam considerar toda a Bacia do Xingu e não apenas uma parte dela, como o governo brasileiro havia determinado. Em 2004, em nova ação, o MPF apontou falhas no processo de licenciamento ambiental de Belo Monte e conseguiu obter na justiça a paralisação do processo. Apesar das sentenças favoráveis em primeira instância, em 2007 o Tribunal Regional Federal mandou dar continuidade aos estudos e o governo incluiu Belo Monte no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Para saber mais sobre as ações do MPF contra Belo Monte, acesse o blog Belo Monte de Violências do procurador do MPF do Pará, Felício Pontes Jr.

O governo desistiu temporariamente dos demais aproveitamentos hidrelétricos no rio Xingu e definiu em resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que Belo Monte seria o único potencial a ser explorado no rio Xingu. Essa decisão, no entanto, poderá ser revogada a qualquer tempo, por outra resolução.

No início de 2009 os Estudos de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) foram encaminhados para análise do Ibama. Só em abril desse mesmo ano foram entregues os estudos  do componente indígena para a análise e parecer da Funai.

O Ibama solicitou aos proponentes do projeto, novos  relatórios complementares com a análise integrada do componente indígena. As audiências públicas para apresentação e  discussão do EIA/RIMA  foram realizadas nos municípios de Brasil Novo, Vitória do Xingu, Altamira e Belém. Elas não foram suficientes para dar vazão aos questionamentos das populações e dos povos indígenas que serão afetados ou sequer foram suficientes para esclarecer as dúvidas da sociedade. Nova ACP do MPF do Pará pediu o cancelamento das audiências.

O projeto Belo Monte

O projeto da hidrelétrica Belo Monte é tão inverossímil que os 26 quilômetros de canais que serão escavados em rocha, idealizados para fazer o desvio de 80% das águas do rio Xingu, variam entre 400 m e 750 m de largura e serão revestidos com uma camada de 10 cm de concreto.  Com o desvio de cerca de 80% das águas do rio Xingu, através do canal artificial, na altura da barragem principal, a Volta Grande do Xingu – um grande meandro do rio e região dos pedrais - terá a vazão reduzida num trecho de 100 quilômetros.

Essa solução mágica que deixará fluir apenas 20% das águas para a Volta Grande é chamada de “vazão ecológica". Os 80% desviados vão abastecer o reservatório dos canais para acionar as turbinas da casa de força principal. A alteração no fluxo das águas vai criar uma verdadeira hecatombe ambiental que se refletirá até a foz do rio Amazonas. Se conseguirem construir Belo Monte, os impactos negativos afetarão diretamente terras dos municípios de Vitoria do Xingu, Altamira e Brasil Novo.  

O processo de licenciamento ambiental

Em novembro de 2009 a equipe técnica do Ibama emitiu um Parecer Técnico pedindo novas complementações aos estudos ambientais. Os técnicos concluíram que não havia elementos suficientes para a concessão da Licença Prévia (LP) de Belo Monte. Em 01 de fevereiro de 2010, contrariando todos os argumentos técnicos de especialistas e da própria equipe, o presidente do Ibama assinou a LP  acrescentando 40 condicionantes.
Essas condicionantes postergaram os esclarecimentos necessários de todas as questões pendentes nos estudos ambientais. A LP foi concedida sob pressão política do governo.

O leilão de venda da energia de Belo Monte foi realizado em 20 de abril de 2010. Duas novas ações do MPF e uma ação ajuizada pelas organizações Kanindé e Amigos da Terra Amazônia Brasileira, não tiveram sucesso para impedir o leilão. O governo tinha organizado uma força tarefa com mais de 100 advogados para derrubar qualquer decisão favorável ao cancelamento da licitação.  

Na semana que antecedeu o leilão, as principais empresas que iriam concorrer desistiram, sob a alegação de que os estudos de viabilidade técnico-econômica não eram confiáveis. Outras empresas sem conhecimento técnico da região, dos impactos ambientais, dos conflitos sociais, foram convidadas na última hora para preencher a lacuna deixada.  Eram necessários no mínimo dois consórcios de empresas para legitimar o certame.

Dois grupos concorreram ao leilão. O azarão, um consórcio liderado pela estatal Chesf e  formado por empresas menores foi criado para preencher a ausência e dar uma falsa idéia de concorrência. O mercado do setor de energia apostava que esse consórcio criado no afogadilho perderia, mas para surpresa geral, acabou vencendo. As grandes construtoras que desfizeram as parecerias antes do leilão, na verdade, não tinham em mente um negócio de geração de energia, mas um negócio de construção. Queriam, mesmo, fazer as obras civis. O faturamento de quem constrói uma grande obra entra antes.

As desistentes, as mesmas empresas que elaboraram os estudos, recuaram movidas pelas incertezas sobre os custos ambientais e sociais, pela exposição da inviabilidade financeira e pela incrível resistência dos movimentos sociais e dos povos indígenas do Xingu, que voltou com mais força depois de 20 anos.  As empreiteiras que idealizaram com a Eletrobras esse monstro no rio Xingu, sempre tiveram um único interesse: fazer a obra, faturar antecipadamente e lucrar muito com a construção. 

Para os vencedores, aqueles laçados na última hora para concorrer ao leilão, no entanto, as promessas do governo garantiam  rentabilidade.  O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e  Social (BNDES) já está financiando 80% dos investimentos necessários para construir Belo Monte, com prazo de pagamento de  30 anos e juros de 4% ao ano. Desses 80%, parte é do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Dinheiro dos trabalhadores brasileiros para financiar um grande projeto de risco. Além disso, o governo concedeu um pacote de benesses para estimular a participação no leilão; o consórcio vencedor terá um desconto de 75% no imposto de renda durante 10 anos e isenção de taxas federais durante as obras.

Mesmo assim, o leilão quase não ocorreu por falta de participantes. Os motivos estariam desde as incógnitas do projeto com relação às escavações em rocha dos canais até as dúvidas sobre os custos socioambientais, não completamente transparentes na época. Houve quem dissesse que a questão principal estria na quantidade de energia que seria gerada pela chamada “hidrelétrica sazonal”. Até o momento, Belo Monte ainda é considerada um bom negócio, tanto pelo governo como pelas empresas.

Os impactos sociais e ambientais

 As áreas consideradas diretamente afetadas não foram objeto de estudos aprofundados e atingirão uma população muito maior do que aquela mencionada no EIA/RIMA.  A perda de biodiversidade no trecho da Volta Grande, e o deslocamento compulsório da população rural e urbana foram minimizados; a avaliação dos impactos na saúde subestimados; os riscos à segurança hídrica e os custos  das externalidades continuam sendo omitidos.

O aumento do movimento migratório está ameaçando o equilíbrio da região que tem tamanha fragilidade. Altamira já registra índices de aumento da violência, de prostituição, de demanda por infraestrutura e de preços de aluguéis e serviços.  A pressão sobre as terras indígenas com invasões, especulações imobiliárias e desmatamento já se tornaram duras realidades em outras regiões da Amazônia que receberam ou que têm projetos hidrelétricos em construção.  Veja-se os problemas insoluíveis da região onde estão implantando as usinas do Madeira.

Todos os impactos decorrentes da construção da hidrelétrica de Belo Monte já foram e têm sido apontados à exaustão. Seja pelo Ministério Público, seja pelos especialistas, seja pelos movimentos sociais, seja pelas ONGs, seja pelos programas de TV, artigos e análise veiculados na mídia. Belo Monte ainda é uma triste história sem final definido. A sociedade brasileira vai ter que criar coragem para escrever seu final, pois é dele que depende a sobrevivência da Amazônia